Tempo de Quaresma

Tempo de Quaresma

A quaresma é um novo começo. Uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa, ressurreição e vitória de Cristo sobre a morte. Este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão. O cristão é chamado a voltar-se para Deus “de todo o coração” (Jl 2,12), “não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor”. (Papa Francisco – Mensagem de Quaresma 2017).

Nós sabemos que uma festa não pode ser bem-sucedida se não for preparada com esmero. Aproximadamente duzentos anos depois de Cristo, os cristãos, desejosos de saborear em plenitude os frutos espirituais da Páscoa, introduziram o costume de celebrá-la, precedendo-a por três dias dedicados à oração, meditação e jejum, como sinal de luto pela morte de Cristo.

Esta grande solenidade, porém, não somente devia ser preparada, como também precisava encontrar uma forma de prolongar a alegria e a riqueza espiritual. Foram instituídas, então, as “sete semanas” pós-Páscoa, isto é, os cinquenta dias de Pentecostes que deviam ser celebrados com grande alegria, porque, como dizia um bispo famoso daqueles tempos, chamado Irineu: “constituem como único dia da festa, com a mesma importância do domingo”. Durante os dias de Pentecostes rezava-se em pé, era proibido jejuar e se administrava o batismo. Na prática, era como se o dia da Páscoa tivesse a duração de cinquenta dias.

Passaram-se mais de 150 anos, e, por volta de 350 d.C, os cristãos percebendo que os três dias de preparação eram demasiadamente poucos, os aumentaram para quarenta. Surgia, a Quadragésima, em português, Quaresma.


Por que exatamente 40 dias?

Quando nós falamos de oito galinhas ou de sete quilos de arroz, queremos significar exatamente oito e sete, nem um a mais, nem um a menos.

Quando, pelo contrário, encontramos alguns números na Bíblia, devemos prestar atenção, pois, muitas vezes, eles têm um sentido simbólico. Assim, quando aparece o número 40, indica um período simbólico, que pode ser longo ou curto. Não é como quando falamos de dinheiro, pois, este deve ser bem contado.

Por exemplo, é difícil aceitar que Moisés tenha passado exatamente 40 dias e 40 noites na montanha sem comer pão e sem beber água (Ex 34,38), e que também Jesus tenha conseguido fazer a mesma coisa (Mt 4,2). Assim, também surge a dúvida se eram exatamente 4.000 os homens para os quais foram multiplicados os pães (Mc 8,9).

Entre os muitos significados que os antigos davam ao número 40, um nos interessa de modo particular: o de indicar um período de preparação (mais ou menos longo) por causa de um grande acontecimento. Alguns exemplos: o dilúvio durou 40 dias e 40 noites e foi a preparação para uma nova humanidade; O povo de Israel passou 40 anos no deserto preparando-se para a entrada na terra prometida; Os habitantes de Nínive fizeram penitência durante 40 dias antes de receberem o perdão de Deus; Moisés e Jesus Cristo jejuaram durante 40 dias e 40 noites para prepararem-se para as missões que o Senhor lhes confiou.

Ficou claro o sentido desse número?

Assim, quantos dias seriam necessários para nos prepararmos para a maior de todas as festas cristãs? 40, naturalmente!

O que fazer durante a Quaresma?

Desde os tempos antigos, a Quaresma foi considerada como um período de renovação da própria vida. As práticas a serem cumpridas eram, sobretudo, três: a oração, a luta contra o mal e o jejum.

– A oração: para pedir a Deus a força para se converter e para crer no Evangelho.

– A luta contra o mal: para dominar as paixões e o egoísmo.

– O jejum: para seguir o Mestre, o cristão deve ter a força de esquecer-se de si mesmo, de não  pensar nos próprios interesses, mas, somente no bem do irmão. Assumir uma postura constante, generosa e desinteressada, é, sem dúvida difícil, este é o jejum.

Mas pode o sofrimento ser uma coisa boa? Como pode agradar a Deus a nossa dor? Não! Deus não quer que o homem sofra. Mas, para ajudar a quem se encontra em necessidade é preciso, muitas vezes, renunciar aquilo que se gosta e isso custa sacrifício. Não é o jejum em si que é bom (às vezes, ele é praticado por razões que nada têm a ver com a religião: há quem coma pouco simplesmente para manter-se em forma, para ser elegante, para gozar de boa saúde, como exemplo, podemos citar o jejum intermitente, tão em voga). O que, verdadeiramente, agrada a Deus é que, com o alimento que se consegue economizar com o jejum, se alivie, pelo menos por um dia, a fome do irmão.

Um livro muito antigo e muito lido pelos primeiros cristãos, O Pastor de Hermas, explica desta forma a ligação entre o jejum e a caridade: “eis como deverás praticar o jejum: durante o dia de jejum tu comerás somente pão e água. Em seguida, tu calcularás quanto terias gasto para o teu alimento durante aquele dia e oferecerás esse dinheiro a uma viúva, a um órfão ou a um pobre. Assim, tu te privarás de alguma coisa para que o teu sacrifício seja proveitoso a alguém. Ele rezará por ti ao Senhor. Se tu jejuares desta maneira, o teu sacrifício será agradável a Deus”.

Um papa muito famoso dos primeiros tempos da Igreja, chamado Leão Magno, dizia numa homilia: “Nós vos prescrevemos o jejum, lembrando-vos não só a necessidade de abstinência, mas também as obras de misericórdia. Desta forma, o que tiverdes poupado de vossos gestos ordinários se transforme em alimento para os pobres”.

 

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