REDAÇÃO CENTRAL, 16 out. 20 / 11:40 am (ACI).- Em 16 de outubro de 1890, nasceu Santa Maria Goretti, em Corinaldo, província de Ancona, Itália. Foi a terceira de sete filhos de um casal católico muito devoto, por isso foi batizada e consagrada à Virgem Maria um dia depois de seu nascimento.
Seus pais eram Luigi Goretti e Assunta Carlini, dois católicos pobres em bens materiais, mas ricos na fé e nas virtudes que cultivaram nos filhos por meio da oração comum, da recitação diária do Santo Terço, da participação na Missa dominical e da comunhão frequente.
Após o nascimento do quarto filho, a família passou por uma grave crise econômica que os levou a emigrar para a cidade de Ferreire di Conca, onde Luigi trabalhou nas terras do Conde Mazzoleni. Este local fazia parte de uma grande planície de campos romanos situada na província do Lácio, que se caracterizava por ser insalubre.
Ao iniciar seu novo trabalho, Luigi fez parceria com Giovanni Serenelli e seu filho Alessandro. As duas famílias viviam em casas separadas, mas compartilhavam a cozinha. Em pouco tempo, Luigi se arrependeu da decisão, pois Serenelli bebia e não compartilhava dos valores de sua família.
A esposa de Giovanni tinha falecido em um hospital psiquiátrico em Ancona e ele não se preocupava com seu filho, um jovem de dezenove anos robusto, grosseiro e cruel que gostava de colar imagens obscenas em seu quarto e ler livros indecentes.
Depois de um ano de trabalho exaustivo, o pai de Maria Goretti contraiu malária e morreu após sofrer dez dias. Em seu leito de morte pressentiu o perigo da companhia dos Serenelli e repetiu sem cessar a Assunta que voltasse para Corinaldo. No entanto, ela estava endividada e comprometida por um contrato de arrendamento.
Após a morte de Luigi, Assunta deixou os cuidados da casa aos irmãos mais velhos e foi trabalhar. Desde então, Maria assumiu a responsabilidade de cuidar da casa e da instrução religiosa dos irmãos mais novos. Diz-se que preferia comer as sobras para que todos comessem bem. Além disso, frequentava seus cursos de catecismo e rezava com frequência.
Ela sofreu muito com a morte de seu pai e aproveitava qualquer ocasião para se ajoelhar diante de seu túmulo e rezar a Deus por sua alma. A família ficou sob o jugo despótico dos Serenelli, por isso Maria se esforçava para encorajar sua mãe a não ter medo e a confiar em Deus.
Anos mais tarde, Assunta contou que Maria sempre carregava o terço enrolado no pulso e contemplava o crucifixo, pois para ela era uma fonte que a nutria de um intenso amor a Deus e de um profundo horror pelo pecado. Depois de sua primeira comunhão, seu amor pela virtude da pureza cresceu.
Desde muito nova, Maria ansiava por receber a Eucaristia, mas pelo costume da época teve que esperar até os 11 anos. Sua mãe rejeitou seu desejo, porque Maria não sabia ler, não conhecia o catecismo e não tinham tempo nem dinheiro para sua preparação na igreja e seu traje de comunhão. Maria persistiu, preparou-se com a ajuda do povo e recebeu a Eucaristia em 29 de maio de 1902.
Com o tempo, Alessandro fez propostas desonestas a Maria. Embora a princípio não tenha entendido suas adulações, mais tarde as rejeitou firmemente. Por isso, costumava rezar a Deus e implorar chorando à sua mãe que não a deixasse sozinha em casa, mas sem explicar claramente o porquê, por medo de ameaças de morte.
Em 5 de julho de 1902, Maria voltou a implorar à sua mãe que não a deixasse sozinha, mas, como não recebeu mais explicações, Assunta não deu importância, considerou um capricho e foi trabalhar no campo. Naquele dia, às três da tarde, quando Maria estava sozinha em casa, Alessandro pediu a Assunta que levasse para o campo uma carroça puxada por bois.
Quando Alessandro chegou em casa, viu Maria cuidando de sua irmã Teresina na cozinha, enquanto remendava uma das camisas que ele lhe entregou depois de comer. Então, ele pediu a Maria que o seguisse, mas ela recusou, porque ele não deu explicações.
Diante de sua rejeição, o jovem arrastou-a pela cozinha, amordaçou-a e ameaçou com um punhal, mas ela conseguiu tirar a mordaça e gritou com medo: “Não faça isso, é pecado. Você vai para o inferno”. Então, ele a esfaqueou 14 vezes e foi para o quarto dela. Ao recuperar a consciência, Maria chamou o pai de Alessandro, que por sua vez chamou Assunta e eles a levaram para o hospital.
No hospital, os médicos ficaram surpresos com o fato de a menina ainda sobreviver, apesar de ter ferimentos fatais em vários órgãos. Os médicos chamaram o capelão e Maria conseguiu se confessar por duas horas. Depois, a menina pediu água à mãe, mas ela se negou, dizendo que era contraproducente para a sua saúde.
A santa não lamentou, mas ofereceu seus sofrimentos à Virgem e se identificou com o sofrimento de Cristo na cruz. Em seguida, o sacerdote lhe perguntou se ela perdoava de todo o coração seu assassino e ela disse: “Sim, eu o perdoo pelo amor de Jesus, e quero que ele também venha comigo para o paraíso. Quero que esteja ao meu lado. Que Deus o perdoe, porque eu já o perdoei”.
Em 6 de julho de 1902, Maria recebeu os últimos sacramentos com serenidade, foi ouvida dizendo “Papai”. Faleceu às três da tarde.
Alessandro foi condenado a 30 anos de trabalhos forçados e, embora a princípio não tenha se arrependido, anos depois, após falar com Dom Blandini, bispo da diocese onde fica o presídio, e sonhar com a santa vestida de branco no paraíso, o jovem escreveu uma carta ao Prelado para pedir perdão a Deus por seu ato.
Posteriormente, o jovem ocupou o cargo de jardineiro em um convento capuchinho e, por sua conduta exemplar, foi admitido na ordem terceira de São Francisco. Foi testemunha do processo de beatificação de Maria e, no Natal de 1937, viajou a Corinaldo para pedir perdão a Assunta e ela lhe disse: “Se Maria te perdoou, como eu não te perdoaria?”.
Maria Goretti foi beatificada em 27 de abril de 1947 e canonizada em 24 de junho de 1950 pelo Papa Pio XII. Em sua homilia, o Santo Padre a chamou de “a doce mártir da pureza” e sublinhou que, embora “nem todos nós somos chamados ao martírio”, somos chamados a buscar e alcançar a virtude cristã, que exige diligência e esforço contínuo até a morte.
Em 2003, São João Paulo II disse que, embora o prazer, o egoísmo e a imoralidade sejam exaltados nesta época “em nome de falsos ideais de liberdade e felicidade”, a santa lembra aos jovens que “a verdadeira felicidade exige coragem e espírito de sacrifício, rejeição de todo o compromisso com o mal e disposição para pagar com a própria vida, mesmo com a morte, a fidelidade a Deus e aos seus mandamentos”.
Em 2016, por ocasião da festa da santa, o Papa Francisco afirmou que “a memória e a vida da Maria Goretti devem animar a comprometer-se consigo mesmo e ser testemunha do perdão”. Também comparou as tribulações da família Goretti com as que as famílias enfrentam hoje devido à migração forçada e à pobreza.
Neste ano foi celebrado o 70º aniversário da canonização de Santa Maria Goretti na Basílica de Nossa Senhora da Graça e Santa Maria Goretti, em Nettuno, a 50 km de Roma, onde se encontram as relíquias do corpo da santa, desde 1929. O templo é guardado pelos Passionistas desde 1888.
Fonte: Acidigital