​Missa em Santa Marta – Almas sentadas

«Para seguir Jesus é preciso saber arriscar», sem receio de «parecer ridículos» e sem ser «demasiado educados»; e nisto «as mulheres são mais capazes que os homens». O convite «a não ficar sentados na vida, parados a ver», foi relançado pelo Papa na missa celebrada na sexta-feira, 13 de janeiro, na capela da Casa Santa Marta.

Para a sua reflexão, Francisco partiu do trecho evangélico de Marcos (2, 1-12) proposto pela liturgia, que narra a chegada de Jesus a Cafarnaum: «Reuniu-se uma tal multidão, que não podiam encontrar lugar nem junto da porta». Mas pode-se pensar que «aquela gente segue Jesus por interesse próprio, para obter algo; talvez: a saúde, uma palavra de conforto». Talvez, acrescentou o Papa, «a pureza de intenção não era total, não era perfeita, é sempre uma mistura, também em nós». De resto, observou Francisco, «quantas vezes até nós seguimos Jesus por algum interesse, por alguma coisa, porque é conveniente». Com efeito «a pureza de intenção é uma graça que se encontra no caminho: o importante é seguir Jesus, caminhar atrás de Jesus».

Por conseguinte, o Evangelho conta-nos acerca «desta gente» que «ia atrás de Jesus, caminhava, procurava-o porque havia n’Ele algo que a atraía: aquela autoridade com a qual ele falava, as coisas que dizia e como as dizia, fazia-se compreender». E além disso Jesus «curava e muitas pessoas seguiam-no para que ele as curasse». A ponto que «algumas vezes Jesus reprovou, quando se apercebeu que o procuravam com tanto interesse material: por exemplo, aquela vez que disse ao povo, depois da multiplicação dos pães: “Mas vós procurais-me não para ouvir a palavra de Deus mas porque vos dei de comer!”. E dizia assim «para fazer notar a diferença».

Houve ocasiões, afirmou o Papa, nas quais «o povo o queria fazer rei, porque pensava: “Este é o político perfeito e com ele as coisas correrão bem, não haverá problemas”». Mas «o povo errava» ao pensar assim. E, com efeito, «Jesus foi embora, escondeu-se». Mas também é verdade que «Jesus deixava sempre que o povo o seguisse com esta pureza de intenção não total, imperfeita, porque sabia que todos somos pecadores».

Na realidade «o problema maior – insistiu Francisco – não eram aqueles que seguiam Jesus, mas os que ficavam parados», os homens «parados, que estavam, na margem do caminho, olhavam, sentados». Marcos, no seu Evangelho, escreve precisamente que «estavam ali sentados alguns escribas», os quais «não seguiam» Jesus mas «olhavam da varanda»; não caminhavam na própria vida, «varandeavam» na vida; nunca arriscavam, só julgavam: eram os puros e não se intrometiam». E também as suas «opiniões eram categóricas». Marcos narra que ao verem a multidão em volta de Jesus «pensavam consigo mesmos: “Que gente ignorante, que gente supersticiosa!”». Mas «quantas vezes – reconheceu o Papa – também a nós, quando vemos a piedade das pessoas simples, nos vem em mente aquele clericalismo que tanto mal faz à Igreja e julgamos as pessoas simples» pensando que são «supersticiosas».

Sem dúvida, «o povo é pecador, como eu sou pecador, todos o somos». Mas o povo «procura Jesus, procura algo, procura a salvação». Ao contrário, aquele «grupo» de homens «parados estavam ali, na varanda, a olhar e a julgar». E «há outros “parados” na vida: pensemos naquele que desde há trinta e oito anos estava à beira do tanque, parado, amargurado pela vida, sem esperança – “nada a fazer, assim não se pode” – e digeria a própria amargura» afirmou o Papa referindo-se à cura do paralítico no tanque Betesda em Jerusalém, narrada por João no seu Evangelho (5, 1-9). Também aquele homem «era outro parado que não seguia Jesus nem tinha esperança».

Ao contrário, «o povo que seguia Jesus arriscava» explicou o Pontífice. Ele «arriscava para encontrar Jesus, para encontrar o que queria». Basta pensar, prosseguiu, no episódio que Marcos narra no Evangelho de hoje: «não podendo apresentar-lho por causa da multidão, descobriram o teto por cima do lugar onde Jesus se achava e, por uma abertura, desceram o leito em que jazia o paralítico». Deste modo, acrescentou Francisco, «estes homens arriscaram quando fizeram o buraco no teto: arriscaram que o dono da casa lhes fizesse causa, os levasse ao tribunal e os obrigasse a pagar: arriscaram, mas queriam ir ao encontro de Jesus».

A este propósito o Papa repropos também o testemunho da mulher, que sofria há tempos de hemorragias, «a qual arriscou quando às escondidas queria tocar apenas a bainha do manto de Jesus: arriscou a vergonha pública; arriscou» porque «queria a saúde, queria chegar a Jesus». Além disso, acrescentou Francisco referindo-se a outro episódio evangélico, «pensemos na mulher cananeia: arriscou ser chamada “cadelinha”» mas disse a Jesus: «Sim, mas tu restituis a saúde à minha filha!».

E ainda, prosseguiu, «pensemos na pecadora na casa de Simão: entrou ali, desesperada, chorou, os cabelos desleixados, com o perfume na mão. E Simão olhou para ela e disse: “Desenvergonhada, se ele fosse um profeta e soubesse quem ela é!”». Também aquela mulher «arriscou ser julgada». Assim como «a samaritana arriscou quando começou a discutir com Jesus: sendo ela adúltera, arriscou e encontrou a salvação».

Em síntese, são todas histórias de mulheres. Será porque «as mulheres arriscam mais que os homens: é verdade, são mais corajosas e devemos reconhecer isto».

«Seguir Jesus não é fácil – prosseguiu o Pontífice – mas é bom e arrisca-se sempre, e muitas vezes tornamo-nos ridículos». Mas «encontra-se uma coisa importante: são-te perdoados os pecados». Porque «por detrás daquela graça que pedimos – a saúde ou a solução para um problema ou para o que for – há vontade de sermos curados na alma, de sermos perdoados».

Na realidade, prosseguiu Francisco, «todos sabemos que somos pecadores e por isso seguimos Jesus para nos encontrarmos com ele». E «arriscamos» ao pensar: «Eu arrisco ou sigo Jesus sempre segundo as regras da companhia de seguros? Até aqui, não ser ridículo, não ser isto ou aquilo!». Mas não se segue Jesus «demasiado educadamente». Aliás, deste modo, «permanecemos sentados» como os escribas no Evangelho «que julgavam». Ao contrário «seguir Jesus, porque precisamos de algo», e arriscando até pessoalmente, «significa seguir Jesus com fé: esta é a fé».

Em síntese, devemos recomendar-nos «a Jesus, confiar em Jesus»: precisamente «com esta fé na sua pessoa», repetiu Francisco voltando ao trecho evangélico, aqueles «homens fizeram o buraco no teto para descer o leito» com o paralítico «diante de Jesus, para que ele o pudesse curar».

Em conclusão, o Pontífice sugeriu os tópicos para um exame de consciência através de algumas perguntas essenciais: «Confio em Jesus, confio a minha vida a Jesus? Estou a caminho atrás de Jesus, mesmo se por vezes me torno ridículo? Ou estou sentado, a ver como fazem os outros, olhando para a vida? Ou estou sentado com a alma “sentada”, digamos assim, com a alma fechada pela amargura, pela falta de esperança?». E concluiu, «cada um de nós pode dirigir-se hoje estas perguntas».

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